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quinta-feira, 17 de março de 2011

Para variar

Recebi por e-mail e repasso,para variar.

Pergunta: Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem
figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão "no frigir dos
ovos"?

Resposta:

Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel,
mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você
percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente
nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem
idéias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.

E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.

Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir
comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é
de grão em grão que a galinha enche o papo.

Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto,
encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é
necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe.
Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai
com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente
acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam
alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha
de assar leitão.

Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas
mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na
maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate,
enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com
cara de quem comeu e não gostou.

O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é
tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para
engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos,
literalmente.

Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio
desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar
sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua
empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é
uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco...

A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir
plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se
junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.

Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir
mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no
frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer
rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata
engorda.