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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A GALINHA ESQUECIDA

Fui, anteontem, a Restinga acompanhar a feitura de um vídeo-clip de Nanda Bel, menininha da idade de minha filha mais nova e filha de uma doce criatura, meu amigo Gilson de Souza, que, com grande dignidade, já vai para seu quarto mandato como deputado estadual por São Paulo.
Lógico que pensei em aproveitar o momento para apreciar, com a boa companhia, tudo aquilo que a cozinha regional pode oferecer, e à qual meu pai, daquela região oriundo - meu pai era de Franca - não se cansava de tecer loas, a começar pela galinha caipira feita com capricho, amor, engenho e arte.
Mas, não aconteceu assim.
Findas as intermináveis e repetidas tomadas (takes), fomos, aleluia, jantar em Franca.
Franca me surpreendeu. Como a cidade cresceu, que vida pujante à noite!
De forma suave bateu-me uma saudade nostálgica dos dias em que, na juventude, por lá passava fins de semana deliciosos, tão somente sendo feliz, muito embora disso só viesse a ter conta quando a poeira do tempo já se tinha depositado em minhas têmporas e , só por isso, me tornara um cidadão respeitável, e, sem poder escapar, encanecido.
Fui levado a um restaurante de nome italiano freqüentado, aparentemente, por clientela classe média afluente, que mais me pareceu, porém, apesar do apelo peninsular, uma casa sem personalidade marcadamente definida, de cozinha multifacetada, sabendo mais a churrascaria levemente sofisticada
Como ando em fase de peixes, experimentei, nesta ordem, um salmão grelhado, um pintado na brasa e um bacalhau também grelhado.
O salmão, que pensei que viria burocraticamente insosso e seco, como seus confrades das churrascarias da vida, veio respeitado: saboroso e cozido com perfeição sem que tenha perdido seus sumos.
O pintado na brasa revelou-se uma gratíssima surpresa. Fresco, tempero mais que exato, leve, assado à perfeição. Pedi bis e já estou com saudades.
O bacalhau, corretíssimamente dessalgado e preparado com primor, fez-se acompanhar de adorável coorte de batatas, pimentões e quejandos, ricamente regados a bom azeite. Em resumo: valeu a pedida.
Para acolitar os acepipes, preferimos, pelo nome da casa, um vinho também italiano, que fosse honesto em sua proposta e suave no bolso.
A Itália é o líder mundial de vinho, produz e consome mais vinho que qualquer outro país no mundo.
A expansão dos vinhos italianos é surpreendente, tanto pela quantidade dos tipos de uva quanto pelos estilos diferentes de vinhos. O interesse pelos vinhos italianos está crescendo e as recompensas estão aqui para aqueles que persistirem. Os que procuram se aventurar com novos vinhos e procuram vinhos que combinem com o prato e com a bolsa, estão se voltando para as variedades italianas tradicionais, tais como Sangiovese, Barbera e Pinot Grigio.
Roma é, além da capital da Itália, capital da região do Lácio, onde , do latim vulgar falado pelos soldados de então, nasceu a língua portuguesa, como bem versou Camões e melhor explica Olavo Bilac no soneto "Língua Portuguêsa", com a metáfora "última flor do Lácio, inculta e bela".
No Lácio, também se encontra a comuna de Frascati, onde se elabora um vinho branco seco feito com as castas Trebbiano e Malvasia.
É um vinho de mesa elegantemente harmônico e bem equilibrado. Apresenta cor palha clara, sabor sápido, macio, fino e aveludado. Ideal para acompanhar peixes, massas e risotos. E mais, é barato.
Pois bem. Pedimos um Frascati que, em temperatura adequada pela espera que fizemos com ele no balde de gelo, veio a nos saciar a sede e embalar o papo furado até que, a desoras, arrepiamos carreira de volta a Ribeirão. 
O repasto regional, a galinha caipira?  Bem... fica por conta de eventual futuro convite do deputado.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


Bolo de cenoura (de liquidificador),   com calda de chocolate durinha

Deparei-me com a secretária doméstica folheando o velho Dona Benta à procura de receita de bolo de cenoura.

Para facilitar a vida dela e, sobretudo, a minha,  já que não posso, hoje, ficar muito tempo explicando nem receitas de bolo nem as reações físicas e químicas que ocorrem na elaboração de algo tão prosaico, resolvi imprimir a receita que abaixo transcrevo, de fácil compreensão e mais fácil ainda execução.

Maior  facilidade impossível, já que se trata de bolo de liquidificador, o que atende a gregos e troianos: secretárias domésticas, solteirões, esposas dedicadas, mas inexperientes,  namoradinhos na fase do encanto e, por aí,vai.

  • 2.5 copos de cenoura [crua e ralada (ou 300g)] ,
  • 1 xícara de óleo
  • 3 xícaras de  farinha de trigo
  • 2 xícaras de açúcar
  • 4 ovos
  • 1 colher de sopa de fermento em pó
1 - Bata bem, no liquidificador, as cenouras cruas junto com o óleo e os ovos inteiros. Reserve
2- Em uma vasilha, misture a farinha e o açúcar.
3- Junte a mistura do liquidificador com a farinha e o açúcar. Misture bem.
4- Adicione o fermento em pó e misture de forma suave e delicada com a massa. Reserve.
5-  Unte e enfarinhe uma assadeira média
6-  Despeje a massa na assadeira.
7-  Leve ao forno pré-aquecido a uma temperatura de cerca de 200 gaus por mais ou menos 35 minutos ou até estar cozido e dourado.

Regalem-se. não sem antes aperfeiçoarem sua obra com uma

COBERTURA DE CHOCOLATE DURINHA
 O segredo do "durinho" da cobertura é o açúcar e o tempo no fogo.
INGREDIENTES
PASSO A PASSO
  1. Misture todos os ingredientes e leve ao fogo.
  2. Deixe cozinhar até levantar fervura e soltar do fundo da panela, mexendo sempre.
  3. Despeje sobre o bolo ainda quente: para que ele absorva um pouco da cobertura ou...
  4. Despeje sobre o bolo morno: para que ele não absorva a cobertura

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

                                  VAMOS COMEÇAR A FALAR DE VINHOS

Poderíamos começar a falar de vinhos pelos franceses, numa viagem de nordeste a sudeste passando pelas regiões do Jura, da Borgonha, de Bordeaux.
Mais ao ssul/sudeste, poderíamos atravessar o País Basco para, adentrando a Espanha,  focar os espanhóis da Rioja e vários outros.
Mas,  nesta primeira vez, vamos falar de um vinho de nosso avozinho, Portugal.
Trata-se de um vinho da região do Dão.
A Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908. Situada no centro de Portugal, na província da Beira Alta, esta região caracteriza-se por um relevo ocidentado a norte.
A região do Dão tem cerca de 20 000 hectares de vinha em mais ou menos 376 000 hectares de terra, que se estendem por vários distritos como: Cimbra, Guarda e Vizeu.
Existem vários vinhos no Dão, sendo mais conhecidos os tintos, em especial os das terras altas e os da meia encosta.
Vamos ficar, contudo com os elaborados com a casta Encruzado.
O cultivo da casta Encruzado é praticamente exclusivo da zona do Dão, sendo provavelmente a melhor casta branca plantada na região. É utilizada na produção da maioria dos vinhos brancos através de vinhos de lote ou de vinhos monovarietais.
A casta Encruzado tem uma boa produção e é bastante equilibrada em açúcar e acidez. Por outro lado, é muito sensível à podridão e a condições climatéricas desfavoráveis (chuva e vento).
Os vinhos compostos por esta casta são muito aromáticos e de sabor acentuado. Apresentam uma longevidade fora do comum, uma vez que podem conservar-se em garrafa durante muitos anos.
Resulta um vinho com paladar muito jovem e fresco, com aromas de boca intenso, bem frutado e típico. Na boca apresenta-se fresco, estruturado e algo volumoso com final persistente.
Devido ao processo de fermentação, temos um branco para beber imediatemente, mas também com capacidades de envelhecimento em garrafa, nesta aumentando sua complexidade.
Pode acompanhar diversos tipos de pratos, como mariscos, todos os pratos de peixe ou pratos de carne mais leves.
Servir a 8-10ºC
 Bem, amigos, por aqui ficamos por hoje.
Saúde!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

                     BIEN VENUES CHEZ MOI!   BIEN MANGER!


Aqui no blog, recebi duas visitas sensecionais. A da Eunice Ferreira, a quem não vejo há uns 13 anos,  e a  do meu bom amigo José Henrique Germann Ferreira (considero o Zé meu mais novo amigo de infância).   Do Zé recebi a seguinte colaboração:

TORTA DE ARROZ COZIDO
(para aproveitar as sobras)
Dá para fazer meia receita, é só diminuir tudo à metade e usar 1 colher de sobremesa de fermento em pó ao invés de 1 colher de sopa.  O tempo de forno a cerca de 220º é de aproximadamente 40 a 45 minutos.
Ingredientes
2 xícaras de arroz cozido
2 xícaras de leite
2 ovos
1 xícara de farinha de trigo
½ xícara de queijo parmesão ralado
´1/3  xícara de óleo
1 colher de sopa de fermento em pó
Modo de fazer
Fácil: colocar todos os ingredientes no liquidificador, ou bater com mixer. Deixar somente o fermento que deve ser adicionado ao final.
Na forma untada e enfarinhada (essa parte eu acho chata, mas necessária) dispor ½ da massa, em seguida o recheio, no seu caso como já disse uma bela lingüiça, adicionei dois tomates cortados bem finos e um pouco de mussarela. Em seguida colocar o restante da massa e a próxima etapa é assá-lo em forno previamente aquecido.

BOLO DE LARANJA COM CASCA
Receita da Fátima, carioca, voluntária do Conselho Familiar do Instituto da Criança
Ingredientes e modo de fazer
1ª etapa
No liquidificador colocar 4 ovos, ½ xícara de óleo, 1 laranja pêra média com casca, picada em quadradinhos- escolher uma com a casca bem amarela- retirar os caroços e o fiapo branco central. Pessoas muito detalhistas já me perguntaram quanto de volume deve ocupar a laranja picada, fui medir e quase sempre dá o equivalente a uma xícara bem cheia, serve como referência. Bater bem, porém não muito, deve ficar uma massa fina com grumos.
2ª etapa
Peneirar 2 xícaras de açúcar, 2 xícaras de farinha de trigo e 1 colher de sopa de fermento em pó. Misturar bem.
Não sei se fará diferença, todavia como meus bolos embatumam, fiz como a Fátima recomendou: Colocar a massa líquida em uma tigela e em seguida ir adicionando a mistura peneirada aos poucos e misturar delicadamente.  É rápido, não será preciso meditar ou refletir durante o procedimento, somente deve-se ser cuidadoso ao mexer para deixar a massa bem fofa e leve. Uah! O Alberto sempre reclama que os doces são muito doces, tenho feito com 1 ½ xícara de açúcar e segundo a sua reavaliação ficou melhor. Entretanto mesmo assim ele continua comendo pouco doce.
Eu gosto de bolos simples, caso queira deixá-lo mais úmido (ele já fica bem fofo e alto) assim que retirar do forno, dar umas furadinhas com garfo e regar com caldo de laranja adoçado. Também fica muito legal.

Enjoy it

jh


Voltaremos, amigos, para falar sobre sobras e aproveitamentos, enquanto isso lembrem-se do ditado português:

À moça a quem bem sabe o pão, perdido é o alho que lhe dão.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Paris,chocolate e romance.

Debauve&Galais )


Acordaram dispostos. Antes mesmo de descerem à cave de seu charmoso hotel-jardim para  o café da manhã com os mais delicados croissants que jamais haviam conhecido, deram-se ao desfrute mútuo com tamanha volúpia e tanto romance que nem parecia que mal tinham acabado de acordar de um profundo sono de paz, daquela paz que só o amor bem feito sabe propiciar.
Petit déjeuner tomado, à saída pegaram à esquerda e, pela Rue Vavin,  não demoraram a alcançar o Jardin du Louxembourg. O dia de outono estava simplesmente maravilhoso e, por isso, atravessaram o parque com bastante vagar, gozando o cair das folhas e fruindo cada partícula dos sorrisos que mutuamente se provocavam, numa manifestação sensível de intensa e despreocupada felicidade.
Enquanto caminhavam, ele, com indisfarçado enlêvo, mirava o corpo pequeno, convidativo e cheiroso da namorada e relembrava o distante dia em que primeiro se falaram, na Serra Gaúcha. Ela, estranhamente, além dos filhos, naquela ocasião também tinha ao derredor, mas mantido distante, o ex-marido, que lá estava como inútil apêndice sem função, a não ser a de fazer caras e bocas. Foi lá, numa chocolataria de Gramado, que a ele, sem ela, veio a idéia de ter chocolate, Mme V. e Paris ensemble numa só e deleitosa combinação de tempo, prazer e espaço. Pois bem, ali estavam, e sós, os dois.
Naquela quarta-feira em Paris, além de obviamente namorarem muito, dois outros eram os objetivos a serem alcançados. No tour pedestre que ele havia programado ainda no Brasil, incluíam-se admiração da arquitetura -- para satisfazer a arquiteta que ainda nela habitava e o puro prazer estético de que ele é possuído -- e, também, para supremo deleite de ambos, degustar chocolate.
Daí, para a primeira parada, foi um pulo.
Saíram do Jardin du Louxembourg, almas já regaladas pelas aléas, o gradil e a fonte.
Derivando pelo Boulevard Saint Michel, foram dar com os costados no nº 108 do Boulevard de Saint Germain, onde lhes esperava a obra de um gênio que, com engenho e arte,  recriou a chocolataria na França – Patrick Roger.  Lá, sem poderem consumir esculturas como a famosa Poseidon, limitaram-se à pequena maravilha apropriadamente chamada  Melodie – uma divina  harmonia composta de sutilezas intensas do caramelo, aromas ressonantes de frutas e qualidades suavemente ácidas da pele da lima brasileira. União de sabores selvagens numa charmosa fusão de perfumes e cores no que nós chamamos de bombom.
Dispostos a não se desviarem de seus propósitos, rumaram pelo boulevard Saint-Michel até a rua Soufflot, para uma visita ao Panteon, onde, num devaneio, pensou ele, em sendo Eros, erigir à ela um templo para Afrodite e Psyché, dada sua condição de deusa e mulher, mulher deusa.
Apertando o passo, já em marcha, só de longe olharam  para a boutique do bicentenário Dalloiyau. Nem o cafezinho no terrasse, sem o qual para ele Paris não é Paris, tomaram. Deixaram para outro momento. Retornaram pela Rua Soufflot e começaram a contornar o parque pela Rua Vaugirard. O destino dodos dois era  Pierre Hermé (72, rue Bonaparte).
Foi ali que  Mme. V se dedicou com tanto prazer dos sentidos a um  "Cérise sur le Gateau" que, com seu modo lascivo e olhar lânguido  direcionado ao parceiro, mais parecia estar a sorver o namorado.  
Ora, luxúria e gula são pecados. E capitais. Não sem motivo, portanto, seguindo o plano do dia, em poucos e rápidos passos regados a muitos e seguidos abraços, já estavam no Boulevard de Saint Germain, nesta altura já o chamando de Sangê, e pararam em frente à igreja de Saint-Germain-des-Près. Pensaram em entrar, mas preferiram dar um tempo. Seus pensamentos do momento já viam naquele templo o altar de Himeneu, a que acorrem aqueles que tocam o arco abrasador do amor. Por fim, entraram, para apreciação da centenária obra e expiação dos ditos e capitais pecados. Contudo, no silêncio do êxtase que o templo impõe pelo belo e pelo sagrado, as memórias sápidas do beijo de bom dia e do divino gateau  de minutos antes romperam com todos os freios de que ela dispunha e Mme. V.   beijou o namorado com um beijo tão molhado que fez corar as pedras do santuário.
Banidos pelo eloqüente pigarrear de uma devota anciã, bateram rápido em retirada, tão depressa que nem perceberam que, num segundo, passando batidos pelo Les Deux Magots e pelo Café de Flore, deixando para trás as lembranças de Picasso,Hemingway,Sartre e Simone de Beauvoir, já tinham chegado a outro precioso templo: o Debauve&Galais.
O  Debauve&Galais, quase grudado à igreja (30, rue des Saints-Pères), é uma verdadeira instituição francesa. Inaugurado em1800, provedores de casas reais, é, até hoje, chiquérrimo e um must para verdadeiros connoisseurs, com produtos contendo 72%, 85% e, até, 99% de puríssimo e selecionado cacau aromático destinados a uma exclusiva clientela de chocólatras puristas. Lá, chocolate, mais do que a bebida dos deuses astecas, é, em si, uma religião, o que faz com que sua degustação requeira meditação e reavaliação do senso dos valores verdadeiros. Cada momento do chocolate deve ser um momento da eternidade, do transcender. Limitaram-se, assim, Mr. e Mme., a um pequeno assortment  noir  e, serenos, com a exclusiva e recíproca companhia, cúmplice e silente do amante amado,  totalmente enlevados se permitiram serem absorvidos ao sabor do chocolate que lentamente se lhes derretia à língua, o que fez percorrer, para os dois, da nuca até a base da coluna, um frisson  que bem conheciam, prenúncio de devaneios indizíveis, de puro deleite, no ágape que cada um representava para o outro na cumplicidade do aconchego. A lembrança da beata, contudo, lhes limitou a um complacente sorriso com o olhar e a um doce selinho.
Mais uma centena de metros e já pegavam a Rue de l’Université para chegarem à Point Royal,  por onde deixariam a Rive Gauche nesta manhã de glória.

GASTRONOMIA, ESTA DESCONHECIDA!!!

A gastronomia é um ramo que abrange a culinária, a gastrologia a gastrotecnia, os materiais usados na alimentação, a estética dos alimentos e, em geral, todos os aspectos culturais a ela associados.
Ao saborear, utilizamos todos os nossos sentidos, mais ou menos nessa ordem: visão, olfato, audição, tato e paladar.
Por isso, aqui neste espaço vamos versar muito mais do que receitas. Vamos viajar. Vamos navegar pela história, a geografia, a literatura, a pintura e, por aí, vai.
Venha comigo, embarque nesta nave.